Por Alexandre Le Voci Sayad e Bruna Domingues Waitman
Educadores como Mitchel Resnick, do MIT, defendem o domínio da programação como uma das habilidades essenciais do século 21. Outros temem que a programação se torne um conteúdo a mais, entre tantos. A polêmica se amplia, à medida em que as escolas começam a considerar o novo conhecimento como uma ferramenta pedagógica.
Em visita recente ao Brasil, o diretor do grupo Lifelong Kindengarden, do MIT Media Lab, Mitchel Resnick, afirmou que entende a programação como uma das habilidades essenciais do século 21. Ele ainda defendeu que saber programar é tão importante, nos dias atuais, quanto saber ler e escrever. Um indivíduo que não seja alfabetizado, diz ele, consegue realizar suas atividades cotidianas normalmente.
No entanto, poderá enfrentar limitações no momento em que for criar. O mesmo vale para a programação, segundo o diretor do grupo que tem como objetivo expandir a gama de possibilidades daquilo que pessoas podem aprender e criar.
A colocação de Resnick é polêmica. Por vezes, mesmo em oficinas sobre o assunto, escutamos de professores que a programação pode se tornar mais um conteúdo entre os tantos outros que os alunos precisam aprender e que compará-la à leitura e à escrita é um tanto quanto ousado. Outros encaram a habilidade como algo mais relacionado ao mundo das ciências exatas do que como uma competência sistêmica.
Em meio ao debate, o tema vem ganhando força e se colocando como uma das tendências educacionais para os próximos anos. Não é à toa que a Hora do Código – movimento global que estimula por meio de tutoriais que qualquer pessoa com pelo menos 4 anos dedique uma hora para entrar em contato com a linguagem de programação – já atingiu mais de 15 milhões de estudantes de 180 países. No Brasil, 650.806 alunos já participaram da maratona de programação.
Talvez a grande virada do olhar sobre a programação tenha se dado por conta da combinação da sua necessidade para criar em um mundo digital e a sua crescente acessibilidade. Para programar, poucos anos atrás, era necessário passar por longas formações ou encarar um curso superior. Isso não é mais verdade. O Scratch, linguagem de programação criada pelo próprio Lifelong Kindengarden, é um ótimo exemplo. Além de ser livre, a linguagem foi pensada para que crianças a partir de 5 anos pudessem desenvolver animações, jogos e atividades interativas usando a lógica da programação apenas ao encaixar blocos coloridos. O programa trabalha a linguagem de programação por meio de uma brincadeira que lembra peças de um jogo de blocos velho conhecido das crianças. A criatividade dos pequenos já resultou em uma imensa galeria de produtos, que vão desde jogos a cartões animados de dia das mães. Além do Scratch, existem outras ferramentas do gênero, como o Code Academy e o Code Studio.
Falas como a de Resnick e movimentos como a Hora do Código estão, pouco a pouco, quebrando paradigmas. Deixam evidente que atividades que trabalham a linguagem da programação podem estimular o pensamento lógico dos alunos, bem como sua criatividade. Além disso, são poderosas ferramentas autorais, que permitem que os estudantes desenvolvam projetos repletos de sentido e de relevância para si. Estimulam a colaboração e fortalecem a premissa de que experimentar é a melhor forma de aprender. Afinal, na programação não existe apenas uma resposta correta.
Alexandre Le Voci Sayad é formado em jornalismo e Bruna Domingues Waitman é formada em administração pública. São diretores do Media Education Lab (MEL), organização que aposta no poder da rede para transformar a educação de maneira criativa.