Fórum ARede Educa

Fórum ARede Educa

“Quando um aluno chega à universidade, uma das primeiras coisas que fazemos é pedir que vá até a livraria e compre livros. Na era da internet, como é que ainda não encontramos uma alternativa para isso?”, perguntou Hal Plotkin, senior Open Policy Fellow do Creative Commons dos Estados Unidos, à plateia do Fórum ARede Educa, realizado dia 20 de agosto, em São Paulo (SP). O especialista – responsável pela implementação da política pública de Recursos Educacionais Abertos (REA) no departamento de educação do governo Barack Obama – propôs uma reflexão sobre a distância entre as possibilidades que a tecnologia oferece e as soluções desenvolvidas.

“Nos EUA, onde investimos 60 bilhões de dólares de recursos públicos em educação, como ainda não conseguimos criar livros de recursos educacionais abertos? É nisso que venho trabalhando por meio do Open Education Resources, o open4us.com.br”, explicou Plotkin. A opção do governo Obama é financiar produtos educacionais mas que necessariamente tenham sua distribuição acessível a todos, dentro e fora do país.

Hall Plotkin

Hal Plotkin

Os resultados começam a aparecer. Plotkin contou que, por meio do projeto, cientistas estão criando jogos para envolver alunos em problemas reais. Um bom exemplo é um game com problemas de bioquímica relacionados às necessidades para se encontrar a cura do AIDS.

O Fórum recebeu educadores, gestores da área de educação, estudantes e empresários. Promovido pela Bit Social, em parceria com o Instituto Educadigital, foi uma iniciativa do portal ARede Educa. O tema dos Recursos Educacionais Abertos, foco do encontro presencial, vai ganhar um espaço de debates no portal, para estimular a troca permanente de saberes e experiências sobre a educação aberta, disse Áurea Lopes, diretora da Bit Social. “A gente tem que pensar um novo jeito de ensinar. Porque a moçada já tem um novo jeito de aprender”, observou Áurea, que também é editora-executiva do portal.

REA no mundo

REA no mundo

Priscila Gonsales, diretora do Educadigital,contou que a comunidade REA no Brasil tem mais de 10 mil seguidores no Facebook e uma lista de discussão com centenas de participantes. Ao falar sobre o crescimento do movimento REA, ela frisou que uma das coisas boas dessa tendência é que “nem sempre a gente precisa criar uma nova obra; a gente pode remixar algo que já foi criado, o que é muito interessante também”.

Entre os palestrantes convidados, Tel Amiel, coordenador da Cátedra da Unesco em Educação Aberta e colaborador do mapeamento internacional de REA, informou que existem repositórios de REA em diversos países da América Latina. Mas essas iniciativas, alertou, precisam de apoio para comunicar de forma adequada a licença de uso dos produtos – ou correm o risco de não serem eficientes em seus objetivos. Também faltam, nos repositórios, soluções de software livre, apontou o especialista. Amiel falou sobre os desafios culturais para o avanço em REA: “Mesmo na universidade pública não temos bons repositórios. Ainda não há uma cultura de partilha. O professor universitário, em princípio, é a favor, mas precisa de incentivo para fazê-lo”.

Outro desafio que os países enfrentam, independente de qual lado do Equador estão, é a dificuldade de os educadores encontrarem os recursos educacionais abertos. Nem sempre as soluções de busca online dão conta. Uma opção, apresentada por Nicole Allen, diretora da Scholarly Publishing and Academic Resources (Sparc), é buscar apoio de bibliotecários. “Os REA são difíceis de achar porque não tem ninguém por trás, investindo milhões, como acontece com os recursos educacionais privados”, reforçou.

Forum ARede Educa - Bit Social (Centro de Cultura Judaica - Unibes, São Paulo) fotos Robson Regato

Jan Gondol

Há diversas soluções que podem ser adotadas, com ferramentas mais ou menos abertas, mas que podem introduzir a cultura do compartilhamento e de novas dinâmicas de ensino aprendizagem, conforme relatou Jan Gondol, responsável pelos projetos de dados abertos e de educação aberta no governo da República Eslovaca e representante da OpenGov Partnership, do qual o Brasil é signatário.

Mas nem só as iniciativas públicas podem se beneficiar da educação aberta. Stavros Xanthopoylos, vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento Educacional (Idea) da Fundação Getúlio Vargas e integrante do quadro de direção do Open Educational Consortium (OEC), do MIT, relatou que universidades e centros de estudo privados já vêm na oferta de REA uma forma de atrair estudantes. Para ele, um dos educadores pioneiros nessa área, é preciso desmistificar a ideia de que REA e negócios não podem andar de juntos.

Experiências brasileiras

Colocar em prática um projeto REA e ativá-lo para que seja utilizado, realimentado, compartilhado e remixado. Não é tarefa fácil, mas o Brasil já tem experiências interessantes nesse sentido. Débora Sebrian, coordenadora de comunicação do projeto REA.br no Instituto Educadigital, salientou a importância de sensibilizar os professores para que os repositórios ganhem esse caráter vivo. “Às vezes precisamos trabalhar individualmente com cada professor, com o diretor. Na minha escola, todo mundo já ouviu falar de Creative Commons e de que isso pode ser bacana”.

Nelson Pretto

Nelson Pretto

“Precisamos desconstruir a ideia de que alguns iluminados criam conteúdo e os demais consomem informação”, ressaltou Nelson Pretto, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Quando a informação era escassa, disse ele, a escola tinha a missão de trazer as informações para a juventude, fazendo o papel de distribuidora de informação. “O que temos hoje é uma quantidade de informação explosiva. A informação não é mais problema, o que precisamos é ter clareza do que fazer. Precisamos superar essa questão da escola broadcasting”, defendeu Pretto. Ele lembrou ainda que o professor precisa ser fortalecido para criar conteúdos e compartilhar materiais educacionais.

O Instituto Akatu pelo Consumo Consciente tem conseguido atrair professores para utilizar seus conteúdos educacionais. Sílvia Sá, gerente de educação do Akatu, mostrou o trabalho de gameficação da plataforma educacional do instituto, em que são oferecidas medalhas e pontuação para os que se envolvem na rede. “Percebemos que muitos dos professores já utilizavam nossos conteúdos, mas não contavam pra gente”, disse ela.

A disputa de narrativa

Forum ARede Educa

Forum ARede Educa

O Fórum ARede Educa recebeu também Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, movimento que também abraça a causa REA. De acordo com ele, ainda há um grande percurso a percorrer para convencer os poderes executivos a investir em REA. Muitas vezes, acabam sendo influenciados por interesses de editoras. O diálogo com o legislativo, no entanto, tem sido frutífero: “Conseguimos mostrar que a função do poder público é tornar tudo o que compra algo disponível para todos. Ou seja, público”, afirmou.

O movimento pela educação no Brasil, segundo Cara, ainda precisa se colocar mais nesse processo de defesa dos REA. Até agora, o debate já radicalizou a proposta pedagógica para que o professor, como mediador da construção de aprendizado, tenha oportunidade de acesso aos melhores recursos. “Isso passa necessariamente por REA. O professor deve decidir como montar”, apontou Cara.

Na plateia do Fórum ARede Educa, Flávio Nigro, vice-presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educacionais, problematizou a ausência de propostas para que os REA sejam trabalhados nos universos públicos e privados. “Hoje gasta-se muito mal porque não existe um plano. Existem apenas pequenas iniciativas, mas desarticuladas, isoladas. Isso mesmo dentro do Ministério da Educação”. Criar repositórios de qualidade, defendeu ele, é mais uma questão de articulação política e de criação de metadados para que os educadores possam utilizá-los.


BONS MOMENTOS

Confira a íntegra do Fórum nesta playlist com 10 vídeos dos debates. Abaixo, fotos e as apresentações do palestrantes.

 

Imagens

 

Apresentações dos palestrantes

Abertura
Áurea Lopes
| diretora da Bit Social e editora-executiva do portal ARede Educa
Priscila Gonsalesvideo | diretora do Instituto Educadigital
Daniel Cara | da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

Painel: O estado da arte de REA no Brasil e no mundo
Jan Gondol | responsável pelo Comsod Projetc, do Ministério do Interior da República Eslovaca; representante do OpenGovPartnership, do qual o Brasil é signatário.
Nicole Allen | diretora da Scholarly Publishing and Academic Resources Coalition (Sparc), organização que gerencia um sistema de comunicação aberta entre bibliotecas acadêmicas.
Stavros Xanthopoylos | Vice-Diretor do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) da Fundação Getulio Vargas; além de Vice-Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED); e, Membro do Board of Directors do OEC (Open Educational Consortium), do MIT.
Tel Amiel | coordenador da Cátedra da Unesco em Educação Aberta, colaborador do mapeamento internacional de REA
mediação – Carolina Rossini | vice-presidente da Public Knowledge, conselheira consultiva do Instituto Educadigital

Painel: Práticas de REA no Brasil
Silvia Sá | gerente de educação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente
Nelson Prettovideo | professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Débora Sebriam | coordenadora de comunicação do projeto REA.br no Instituto Educadigital
mediação – Áurea Lopes | diretora da Bit Social e editora-executiva do portal ARede Educa

Palestra: REA como política pública nos Estados Unidos
Hal Plotkin | senior Open Policy Fellow do Creative Commons USA; foi senior Policy Advisor do Departamento de Educação dos EUA, responsável pela implementação da política pública de REA no governo Barack Obama.