Confira as sugestões práticas dos professores Bruno Campagnolo de Paula e Wilson Azevedo.
>>> Bruno Campagnolo de Paula é coordenador do curso de Tecnologia em Jogos Digitais na PUC-PR. Utiliza a metodologia de sala de aula invertida desde 2009.
1. Não existe um único jeito de flipar sua aula
Você pode: inverter todas as aulas, apenas algumas ou uma só. Não existe fórmula. Experimente diferentes formatos. Cada semestre de flipped vai ser diferente do outro, geralmente melhor que o anterior.
2. Aula invertida não significa menos trabalho para o professor, muitas vezes é o contrário
Independente da mídia escolhida (vídeo, jogo, texto), a aula exige melhor preparação. Pode parecer que você vai fazer uma vez um conjunto enorme de materiais e depois é só repetir os mesmos vídeos a cada semestre. Errado. O aluno de flipped exige um aprendizado maior, e você vai ter mais dúvidas a tirar. Considere cada dúvida uma oportunidade para expandir seus materiais didáticos. Aula invertida é uma ferramenta para tirar o foco do professor enquanto transmissor e focar o momento em sala de aula no estudante. Assim, o estudante fica bem mais exigente.
3. Faça vídeos curtos e completos – com introdução e revisão, inclusive
Não acredite que o aluno vai assistir a todos os vídeos e de maneira linear. Coloque uma introdução fazendo ganchos com os vídeos anteriores e uma conclusão revendo o que foi visto e o que vem pela frente. Divida os diferentes assuntos em vídeos curtos: 10 minutos no máximo. 5 a 8 minutos é o ideal, segundo algumas pesquisas.
4. Evite editar o vídeo. Mas não deixe de fazer zoom!
Gerar vídeos toma muito tempo. Mantendo os vídeos curtos fica fácil e pouco custoso de repetir, caso o resultado não tenha sido bom. Se quiser colocar edições, use os recursos de anotações do próprio YouTube. Vídeos não editados também têm uma aparência menos profissional e mais próxima do aluno, ele entende que foi você que fez e valoriza o seu trabalho personalizado.
Mas, se você deve evitar editar, como fazer zoom? Minha dica: use uma ferramenta como o ZoomIt, que permite que se faça zoom e desenho na tela em tempo de gravação.
5. Se possível, faça vídeos apenas da tela
O ser humano é programado para reconhecer rostos. É melhor uma tela branca e um desenho do que você falando e os alunos prestando atenção no seu rosto ou no movimento de suas mãos.
Voltando à dica anterior: use uma ferramenta de anotação para reforçar os itens que você considera importantes.
6. Boas atividades em sala são mais importantes que um bom vídeo
Essa é a dica mais importante. Inverter a sala de aula significa colocar os alunos para trabalhar mais em sala JUNTO com você. Planeje atividades em que você vai ter contato individual constante com o aluno e atividades que estimulem que os alunos façam barulho, interajam entre si e se ajudem.
>>> Wilson Azevedo, diretor da Aquifolium Educacional, é um dos entrevistados na reportagem Educação perdendo o jogo: tá na hora de virar esse placar.
O texto abaixo também pode ser ouvido: https://dl.dropboxusercontent.com/u/3164100/2arespostamariana.mp3
Ou baixado: https://dl.dropboxusercontent.com/u/3164100/2arespostamariana.mp3
7. Seja prudente
Quem for introduzir alguma modificação, alguma inovação em educação deve ter prudência, deve saber que toda inovação desperta oposição, resistências. Então, prepare as pessoas para isso. Você já pode contar que 10% se tornarão os primeiros adeptos da inovação que você tentar introduzir; outros 10% serão fortemente resistentes, dificilmente aceitarão, mesmo tendo passado muito tempo. E aí, dentro desses dois extremos, você tem alguns gradientes de posições, que são pessoas que vão aos poucos aderindo à inovação. Os que vão aderir depois dos primeiros adeptos se entusiasmando, aqueles que são mais desconfiados quando vierem a maioria vão com a maioria… Mas não espere adesão imediata integral. Por isso, prepare o seu público. Que pode incluir também os pais, no caso da educação básica, no ensino fundamental ou médio. Prepare os pais, os alunos, a direção da escola. Seja prudente. Não se aventure a implementar uma inovação sem preparar as pessoas.
8. Seja simples
Opte pelo que é mais simples, não complique. Tecnologicamente existem muitas opções que podem fazer com que as pessoas tenham bastante dificuldade de adotar aquilo que você está colocando porque você criou essa dificuldade. Ou então você mesmo pode encontrar dificuldade pra fazer qualquer coisa que envolva tecnologia porque você optou pelo mais complicado. Há muitas tecnologias disponíveis. Há aquelas que ainda precisam amadurecer muito, ainda tem muita história pela frente, até amadurecerem, e existe aquilo que funciona. Então, você pode escolher entre aquilo que funciona e aquilo que pode ser que funcione… em alguns casos… se o plug in tiver a versão não sei qual… se o navegador for assim ou assado… você pode adotar tecnologias que são complicadas desse jeito ou pode adotar o que funciona. Por exemplo: MP3. Eu to usando aqui, nesta entrevista, MP3. Aí nós já temos uns dez a quinze anos de uso corrente, diário, de MP3, especialmente entre os mais jovens. Agora, você pode escolher algum formato de vídeo, OGG, por exemplo, e tentar impor isso aos seus alunos. Alguns conseguirão acessar, outros não. Então, você escolhe: se você quer que funcione, você usa o que é mais simples. Se você quer enrolar e complicar as coisas, você tem um leque de possibilidades de tecnologia.
9. Seja interativo
Nem sempre ser interativo significa adotar tecnologia mais complexa. Você pode ser interativo, por exemplo, pedindo que seu aluno assista um vídeo ou ouça um áudio e faça alguma atividade que leve você a interagir com ele na sala de aula. Durante o vídeo anote tal ou qual referência, que eu vou fazer a tal ou qual coisa. Ou preste atenção nisso, ou, responda a essa pergunta… aí o aluno leva isso pra sala de aula e você pode interagir com ele. Isso não é nenhuma interferência na tecnologia em si, não é a adoção de um vídeo que de repente pausa para fazer alguma atividade no meio. Existe isso também, existem recursos para fazer isso. Mas não é isso que eu quero dizer. Ser interativo não é pausar um vídeo para fazer uma atividade no meio e voltar a passar o vídeo. Não é só isso. Essa ideia de que você bota o aluno para assistir alguma coisa, que implica uma passividade, mas exige dele alguma atividade, essa ideia é interessante.
10. Seja paciente
A implementação de uma inovação leva tempo. Os próprios professores John Bergman e Aaron Sams, quando introduziram a sala de aula invertida foram muito pacientes. Eles tiveram que ser pacientes porque estavam usando algo muito novo com eles mesmos e com os alunos, em uma intenção completamente diferente do que acabou sendo um ano depois. Ou seja, passou-se um ano até que eles começaram a perceber o potencial daquilo, despertado fundamentalmente pelos alunos, e depois mais dois ou três anos para eles descobrirem mais plenamente o potencial que a sala de aula invertida oferecia. Então, seja paciente. Você estará em um processo que não vai acontecer em uma semana, nem em um mês e nem mesmo em um ano. Um processo de inovação educacional que é para durar anos. E muita coisa você vai descobrir no meio do caminho.
11. Mantenha a mente aberta
Você vai descobrir coisas. Vão acontecer situações novas que vão desafiar você a fazer outras coisas. Vão surgir sugestões de alunos, de pais, de gestores… obstáculos que esses personagens podem vir a impor sobre o seu trabalho… e isso vai exigir de você criatividade, outras providências. Mantenha a mente aberta para mudar. Você pode ter traçado um rumo e de repente as coisas não acontecem exatamente como você previa. Ou aparece mais alguma possibilidade. Por isso, esteja com a mente aberta para mudar, para experimentar algo de novo. Porque uma vez rompido com o modelo em que os alunos estão na sala assistindo aula, abrem-se tantas possibilidades que é um desperdício fechar-se em apenas uma.
Quem quiser começar essa inovação, caminhe devagar. Porque saber a direção é mais importante do que a velocidade. É uma paciência de agricultor. Uma paciência que todo educador deve ter para ver os resultados de seu trabalho.